Doutorando do PPGECM, Gustavo Augusto Assis Faustino, e equipe de pesquisadores da UFG são classificados em 1º lugar no Prêmio SBPC 2024
Os discentes receberam o reconhecimento na categoria Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Tal objetivo se consolida, pois, muitas vezes, os conhecimentos realizados por pessoas não brancas, das dissidências sexuais e desobedientes de gênero, são apagados, reprimidos, distorcidos e até mesmo negados sob uma perspectiva e lógica cis-branca-mono-heteronormativa-eurocentrada.
A pesquisa, premiada no SBPC 2024, não somente preenche lacunas históricas na formação de professores, mas também lança luz sobre a necessidade de romper com a suposta neutralidade científica que predomina no ensino tradicional.
Durante a entrevista, os(as) pesquisadores(as) destacaram que, ao incluir essas perspectivas na formação docente, o objetivo é criar um ambiente educacional mais inclusivo, onde temas como as epistemologias racializadas e as questões de gênero sejam abordados de forma crítica e reflexiva. Confira a seguir a entrevista na íntegra.
Parabenizamos todos os demais ganhadores do prêmio! Acompanhe no link a seguir a relação com os participantes premiados: https://search.app/XpLVScCtNh8wUNiY8.
- Vocês já identificaram algum padrão ou insight nas concepções identitárias de professores/as em formação? Como as questões de gênero se manifestam nesse contexto?
Somos e fomos acostumados/as a discutir, desde muito cedo, as teorias, teoremas, modelos de metabólicos, equações químicas nas áreas ditas duras - Ciências/Química. Quando se trata, por exemplo, de discutir o papel e as relações de gênero, raça e classe na sociedade, comumente não é apresentado na formação de professores/as essas relações como um conceito e/ou uma teoria viva que explica as relações sociais.
Dessa maneira, um aspecto que perpassa esses debates é a informalidade. Nas Ciências/Química, a informalidade é construída para gerar o afastamento entre o discurso científico e as questões sociais. Parece, portanto, que ao discutir gênero e questões coletivas com os/as professores/as, os discursos tendem a se tornar mais informais, afastando-se dos aspectos científicos.
Ao trazer o aspecto da informalidade entendemos que é um dos mecanismos para afastar a questões de gênero da Ciência, pois se compreende que, ao falar sobre essas questões o conhecimento é desvinculado do contexto social, uma vez que a legitimidade científica é construída com base na neutralidade e objetividade. Importa reconhecer, também, que ao trazer as abordagens mais impessoais, sem perder a natureza do conhecimento científico no ambiente acadêmico, pode-se promover um aprendizado na formação de professores/as de Ciências/Química.
- Como vocês esperam que a pesquisa contribua para a discussão sobre gênero e identidade na educação em Ciências e Química?
Implementando uma disciplina que debate as discussões sobre gênero, raça e classe dentro do próprio Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), os organismos formadores/as de profissionais das áreas ditas duras, a partir de agora começam a se comprometer com esse combate a modelos de ciência neutra. Dessa forma, esperamos estar inaugurando na UFG e no campo do Ensino de Ciências esse lugar e essas reflexões.
Para isso, é preciso romper com o modelo capitalista, patriarcal, racista, uma vez que, a maioria da população brasileira não se encaixa no padrão homem branco e há nesse modelo um apagamento de existências e produções diferentes. Sendo determinante que haja na formação inicial de professores/as de Ciências/Química das disciplinas que estabeleçam diálogo facilitado a essas perspectivas.
Além disso, discutir a partir das perspectivas feministas sobre o capitalismo, os bens comuns e os diferentes tipos de trabalho de cuidado pode romper com a neutralidade apresentada pela Ciência e escancarar as entranhas do capitalismo, ressaltando a importância de ter, na formação de professores/as em Ciências/Química, a abordagem de raça, gênero e classe para que os conceitos basilares presentes na formação dos/as professores/as não sejam ensinados/as desvinculados da realidade dos/as estudantes.
Fonte: PRPG UFG