
Inteligência Artificial na pesquisa: professor da UFG é co-autor de e-book com diretrizes para uso ético e responsável
Obra colaborativa traz recomendações para o uso ético e responsável da IA generativa no meio acadêmico, abordando impactos, riscos e oportunidades para pesquisadores
A inteligência artificial generativa (IAG) já se tornou uma realidade no meio acadêmico, transformando desde a análise de dados até a escrita de artigos científicos. No entanto, seu uso levanta questões essenciais sobre ética, transparência e integridade na pesquisa. Para auxiliar a comunidade acadêmica a navegar por esse cenário em constante evolução, o professor Ricardo Limongi colaborou na criação de um e-book que oferece diretrizes práticas para o uso responsável dessa tecnologia.
Nesta entrevista, Limongi detalha como surgiu a iniciativa, os principais desafios enfrentados na elaboração do material e a importância de preparar professores e alunos para lidar com a IA de forma crítica e construtiva. A obra, fruto de uma parceria com os professores Rafael Sampaio da UFPR e Marcelo Sabbatini da UFPE, busca ser um guia acessível para pesquisadores, professores e gestores acadêmicos no Brasil.
O que o motivou a colaborar com a criação do e-book?
A proposta da criação do e-book surgiu do Prof. Rafael Sampaio da UFPR. Por coincidência, ele assistiu uma palestra minha em que falei de um artigo dele, e acabamos nos conectando pelas redes sociais. Depois dessa conexão, tenho discutido com o Prof. Rafael algumas iniciativas e preocupações sobre a cultura do uso de Inteligência Artificial, em especial, no ambiente acadêmico. Percebemos que universidades em todo o mundo criaram manuais para direcionar o uso da Inteligência Artificial Generativa, porém, faltava uma discussão mais fundamentada com a perspectiva de ferramenta, ética e implicações, principalmente aplicada ao contexto brasileiro e que pudesse ser o ponto de partida para alunos, professores e gestores acadêmicos.
Quais os principais temas e recomendações apresentados no e-book para orientar pesquisadores no uso dessa tecnologia?
O e-book aborda temas como o funcionamento da IAG, suas aplicações na pesquisa acadêmica e suas limitações, incluindo vieses e riscos à privacidade e integridade acadêmica. As recomendações incluem a preservação da autoria humana, a transparência no uso da IAG, a integridade na pesquisa, o respeito aos direitos autorais e a preservação da agência humana, enfatizando o uso ético e responsável da tecnologia. Buscamos trabalhar num modelo mais direto e aplicado para que possa ser consultado por seção ou dúvida específica do pesquisador.
Como foi o processo de desenvolvimento do e-book e quais áreas do conhecimento foram mais envolvidas na sua produção?
O desenvolvimento foi uma colaboração interdisciplinar entre pesquisadores das áreas de Ciência Política, Comunicação e Administração, e também, de instituições em diferentes regiões. O Professor Rafael Sampaio é da UFPR, o Marcelo Sabbatini da UFPE e eu aqui da UFG. Buscamos integrar diferentes perspectivas do conhecimento para direcionar os desafios e oportunidades da IAG na pesquisa acadêmica, como por exemplo, a importância do letramento em IAG para o uso correto e ético.,
Como a ascensão das IAs generativas tem impactado diferentes áreas do conhecimento e do meio acadêmico?
Acredito que principalmente com a oferta de novas ferramentas para análise de dados, geração de conteúdo e modelagem de fenômenos complexos. No meio acadêmico, isso se traduz em oportunidades para inovação metodológica, mas também levanta questões sobre a integridade da pesquisa, a originalidade e a ética no uso dessas tecnologias. Outra ponto que mencionamos no livro e destaco nas palestras é que a IAG nos ajuda a selecionar o que é de fato aderente e importante lermos para nossa pesquisa, e claro, ficarmos atualizados apenas configurando uma IAG.
Quais os principais desafios éticos que surgem com o uso crescente de IAs no meio acadêmico e na sociedade em geral?
Principalmente a potencial desumanização de processos decisórios, a reprodução de vieses existentes nos dados, a ameaça à privacidade, a violação de direitos autorais e a possibilidade de uso malicioso da tecnologia. No contexto acadêmico, há preocupações adicionais relacionadas ao plágio, à integridade da pesquisa e à transparência no uso de ferramentas de IAG. Estamos num momento fundamental para criarmos uma cultura de uso de IA, e para isso, precisamos discutir em conjunto, pois é tudo muito novo. Comento sempre que os professores, em sua grande maioria, não aprenderam com IAG, porém, precisamos ensinar com esta tecnologia, por isso, precisamos aprender com os alunos que estão ingressando nas universidades de maneira colaborativa e com uma discussão aberta e transparente.
De que forma sua experiência acadêmica na área de Inteligência Artificial e pesquisa contribuiu para a elaboração deste e-book e para a construção das diretrizes apresentadas?
Principalmente por mergulhar na lógica do algoritmo e na funcionalidade. Toda minha formação foi na área de Administração, porém, me dediquei ao longo da minha carreira em estudar a abordagem analítica, que é a base central da IA. Outro ponto é que, particularmente, sou contra vermos apenas a aplicação, precisamos entender o funcionamento, e por isso, me dediquei a ler as documentações da plataformas e as interações em comunidades de tecnologia para entender porque os resultados eram entregues com determinadas características, assim, o pesquisador tem mais facilidade para descrever o processo de uso, e claro, aumentar o potencial de replicabilidade.
Qual é a importância desse material para a comunidade acadêmica brasileira e como ele contribui para a pesquisa?
Acredito que por oferecer orientações práticas e contextualizadas para o uso ético e responsável da IAG na pesquisa. Com estas diretrizes claras, buscamos auxiliar pesquisadores a integrarem essas tecnologias em seus trabalhos de maneira consciente, preservando a integridade científica e promovendo a inovação responsável, e ainda, ser um guia de consulta para que instituições, programas de pós-graduação possam discutir em seus respectivos grupos como a IAG será usada.
Fonte: PRPG UFG